Não é novidade que cada ser humano possui um ritmo único de aprendizagem. Uns são mais rápidos, outros mais detalhistas, outros preferem anotar, assim como têm aqueles que gostam de rever todas as informações absorvidas. É ‘dever’ do educador se permitir conhecer e principalmente, saber respeitar cada um destes ritmos.
Quando falo em ‘ritmo’, é claro que este, está relacionado com tempo e velocidade, mas também com a ‘repetição’. O aprendiz acostuma a estudar/aprender de determinada forma, e assim ele tende a seguir toda vez que necessita adquirir novos conhecimentos. Do latim “rhythmus“, a palavra ritmo significa ‘movimento regular; cadência’, ou seja, algo que se repete como uma batida melódica e harmônica na música.
Sendo assim, cada aluno é como uma bela música, que quando conhecida, você aprende a cantarolar. Quando você, educador, descobre o movimento regular de aprendizagem do aluno, tudo fica mais fácil. A lição é aprendida de maneira mais eficaz e as atividades práticas fazem mais sentido. Já tentou cantar uma música que você não conhece? Você se perde, fica estranho e até sem graça.
Como já vimos em outros artigos sobre as ciências agógicas, crianças aprendem de forma diferente dos adolescentes, que aprendem de forma diferente dos adultos, e assim vai. Ok, mas e aí? É neste ponto onde quero chegar. Vamos imaginar uma sala de aula com 20 alunos adultos. Cada um deles com seu próprio ritmo e com um pequeno detalhe: não é de hoje que eles desenvolveram esse ritmo!
Portanto, não adianta você pressionar, criticar, exigir ou tentar mudar estes indivíduos.
“- Ok, turma, vamos esperar o João anotar, para então seguirmos…” (você perde o João)
“- Vamos lá, Erick. Não é tão difícil de entender, certo?” (você perde o Erick)
“- Regina, você está muito acelerada. Isso é assunto para outra aula, calma!” (você perde a Regina)
“- Estou falando… prestem atenção e depois vocês fazem as pesquisas de vocês!” (você perde todo mundo)
É preciso ter… Como é aquela palavra da moda? Empatia! Se você observa que o João leva um pouco mais de tempo para anotar, que o Erick precisa de algo mais visual, que a Regina tem um ritmo mais acelerado e que a maioria da turma gosta de pesquisar os dados que você apresenta, mude o seu ritmo, adapte-se aos aprendizes.
De acordo com Santo Agostinho (354 – 430), existem 3 tipos de aprendizes. O primeiro grupo é daqueles que receberam uma boa educação; o segundo não receberam educação; e o terceiro é formado por aqueles que receberam uma má educação, mas acreditam que foram bem educados. Há um ritmo de ensino para cada um destes e, de acordo com Agostinho de Hipona, o educador precisa saber lidar com eles.
No primeiro grupo, o ritmo é mais dinâmico, não é necessário explicar por muitas vezes e os alunos precisam de desafios. Para o segundo grupo, o educador precisa ser paciente, simpático e estar disposto a repetir os temas, ou seja, é um ritmo de ensino diferente. Para o terceiro grupo, é preciso ajudar os estudantes com a desconstrução daquilo que acham que sabem e trabalhar a humildade, o que pode levar mais tempo ainda.
Perceba que podemos citar diversas teorias de educadores, psicólogos e filósofos que defendem que cada aprendiz é único, possui seu próprio ritmo e tudo está de acordo com a natureza, com o “eu interior“. Sócrates, Platão, Quintiliano, Bernardo de Claraval, Knowles, dentre outros, defendem que você, educador, precisa valorizar tais diferenças.
Por fim, o ritmo de aprendizagem de um aluno adulto está muito relacionado com a própria história de vida, com a educação que recebeu durante a infância/adolescência, a estrutura biológica/psicológica, o meio social e cultural em que está inserido; com os preconceitos; com as dificuldades/barreiras encontradas; etc. Já que relacionei o ritmo de aprendizagem com uma música, o papel do educador é atuar como um maestro/regente, que conduz um grupo de pessoas/instrumentos, cada qual no seu próprio ritmo.
Não é difícil, sabia? É saber ouvir, respeitar as individualidades e mostrar interesse em cada um deles. Você, enquanto educador, já tentou mudar o ritmo para sua ‘orquestra’ entrar em harmonia ou prefere tocar sozinho?
Cada turma será diferente, cada formação será única! É preciso ter aquele ‘frio na barriga’ e pensar: “qual é o ritmo da turma e como será que cada indivíduo irá se comportar?”.
Para referenciar o artigo, utilizar:
Beck, C. (2020). Respeite o ritmo de cada aluno. Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/respeite-o-ritmo-de-cada-aluno