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Turma heterogênea: como trabalhar?


Recebi recentemente a seguinte pergunta de uma professora de São Paulo:


Como motivar uma turma heterogênea com 50 alunos?“.

Em vez de responder apenas para ela, prometi que faria um artigo sobre esse assunto, que é algo muito debatido nos treinamentos de Andragogia que venho aplicando em instituições de ensino.


Começo com uma afirmação ‘polêmica’: 


Quanto mais diferença em sala de aula, melhor!

Sempre que algum educador me pergunta sobre a questão de turmas heterogêneas, percebo que existe uma certa dificuldade e preocupação com o assunto. O que acontece quando temos alunos com idades diferentes, perfis nada próximos, objetivos e motivações particulares? Simples, temos a possibilidade de utilizar as diferenças a nosso favor, como parte de nossa didática.


Já pensou você (educador) ministrando uma aula para uma turma formada por 15 alunos, todos engenheiros de 30-35 anos, nasceram e viveram no mesmo bairro, trabalham todos na mesma empresa, casados e cada um deles com 2 filhos, falam inglês no mesmo nível, a formação anterior foi na mesma universidade, as experiências pessoais são idênticas e para finalizar, aprendem todos da mesma forma. Nesse momento você deve ter pensado: Pô, que turma ‘sem sal’.


Se tratando de ensino de adultos, temos a necessidade de experiências diferentes que irão fazer parte e somar na didática utilizada pelo educador. É importante que saibamos utilizar as diferenças para que os alunos aprendam uns com os outros (e nós com todos), gerando um ambiente de aprendizagem colaborativa. É fácil? Não. Será preciso desenvolver metodologias e ferramentas para se adaptar a esse tipo de turma e além disso tenha a certeza de que irá suar a camisa. Sim, é cansativo!


O psicólogo bielorrusso Lev Vygotsky, que frequentemente referenciamos por aqui, defende que o educador deve ter estratégias diferenciadas para atender os alunos heterogêneos, já que não detêm os mesmos conhecimentos nem aprendem de forma igual. O espanhol Antoni Zabala, filósofo e educador, complementa que:


“Em cada caso, utilizamos uma forma de ensinar adequada às necessidades dos alunos. Segundo as características de cada um, estabelecemos um tipo de atividade que constitui um desafio alcançável, mas um desafio, e, depois, lhes oferecemos a ajuda necessária para superá-lo”.

Para lidar com a heterogeneidade com uma característica da turma não é tarefa fácil, mas cabe ao educador ser flexível, conhecer metodologias e técnicas diversas de ensino, utilizar mais de uma linguagem, ter fácil adaptação, assim como propor atividades que façam sentido para seus aprendizes. Mas como fazer isso, uma vez que em uma turma como essa a maioria dos alunos possuem perfis diferentes, motivações internas e não aprendem no mesmo ritmo?


Acredito muito que é possível identificar ‘grupos com interesses em comum‘. É praticamente impossível que o educador se adapte individualmente a todos os alunos, principalmente em turmas de 25, 30 alunos, em um período de 50 minutos (em treinamentos de 16 horas, é possível). Caberá a ele, através da interação e da sintonia, perceber quem são os aprendizes e o que os motiva a estarem em sala de aula. Terá o grupo de alunos com muita experiência profissional, outro formado por pessoas mais novas e ansiosas por conhecimentos, quem sabe um constituído por aprendizes que buscam uma certificação para melhorar de cargo na empresa, e por aí vai.


Perceba que não é para criar grupos físicos e separar as pessoas em sala de aula. A intenção é que você utilize linguagens específicas com os grupos identificados. Exemplo: Sei que muitos de vocês buscam uma qualificação para poder ser promovido, sendo assim, o conteúdo que vamos estudar agora é de fácil aplicação. Amanhã mesmo você conseguirá testar esse novo conhecimento em sua empresa.


Vamos lá, o que acabou de acontecer? Você foi certeiro(a)! Falou com um grupo identificado de alunos que buscam uma nova colocação, mas para isso foi necessário pesquisar, ter empatia e conhecer a motivação de seus alunos. Caso não tivesse feito isso, o que poderia acontecer? Exemplo simples: você afirmar que algumas pessoas buscavam um novo cargo na empresa em que estão, sendo que a sua turma é formada por 100% de alunos desempregados. É o famoso ‘tiro no pé‘!


É preciso ter em mente os interesses e motivações de seus alunos, portanto abra oportunidades, faça perguntas, tente conhecer ao máximo seus aprendizes, se importe com eles e assegure que você espere o melhor pela turma. O educador que trabalha com turmas heterogêneas não chega com respostas prontas ou propostas de ensino engessadas, nem possui uma única forma de avaliação. Os pressupostos andragógicos podem lhe ajudar muito nesse sentido, basta conhecê-los.


Sugiro a leitura destes dois livros sobre como trabalhar uma turma heterogênea:


“Planejando o Trabalho em Grupo – Estratégias para Salas de Aula Heterogêneas”, da professora Rachel A. Lotan, recém lançado aqui no Brasil.


“A Prática Educativa: Como Ensinar”, de Antoni Zabala.

 

Para referenciar o artigo, utilizar:

Beck, C. (2017). Turma heterogênea: como trabalhar? Andragogia Brasil.

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