Muitos autores colocam o assunto da Pedagogia e Andragogia como uma rivalidade. Há uma espécie de ‘rixa’ entre esses dois conceitos e uma necessidade de colocar uma como superior à outra, até que se consiga ‘provar’ qual delas é a mais correta ou adequada à situação, invalidando a outra, quase que automaticamente. Mas, nós aqui, as trataremos como duas especialidades que podem (e devem) ser utilizadas na educação.
A principal diferença, advinda até mesmo da etimologia das palavras; Pedagogia (paidos + agos = orientar/conduzir a criança) / Andragogia (andros + gogos), é que uma é destinada para crianças e adolescentes e a outra é voltada para a educação de adultos. Tanto a Pedagogia, como a Andragogia, consideramos como parte das Ciências Agógicas. Ambas são educação, porém, cada vertente voltada para orientar um ‘público’ específico.
Atenção à resposta às perguntas que recebo frequentemente:
“Ah, então quer dizer que a Pedagogia não é voltado para ensinar adultos?”; “Se sou pedagogo, quer dizer que não sei ensinar alguém com mais de 18 anos?
A questão não é essa! Sim, você pode ter cursado Pedagogia e ser um excelente professor. A questão é que, os métodos utilizados pela Pedagogia “Tradicional” não são tão eficazes e autodirigidos para alunos adultos. Não pela falta de alguma habilidade do professor, mas sim, pelo perfil e exigências dos alunos que estarão em sala de aula. Eles possuem uma bagagem, as experiências!
Diferenças notáveis
A Pedagogia, por sua vez, é focada na autoridade, “top-down“, em que uma figura central tem controle (ou quase) total sobre a experiência de aprendizagem de uma criança. Nela, é o educador que ‘decide’ o que, como, quando e onde as crianças irão aprender, determinado conteúdo. Já os aprendizes, por não terem esta autonomia em sala de aula, aceitam o que lhes é oferecido, sem nenhuma ação sobre.
Quando nos voltamos aos adultos, percebemos que eles têm o controle sobre grande parte da sua experiência de aprendizagem (seja dentro e/ou fora da sala de aula) e devem ser motivados a aprender. Muitas vezes podem buscar experiência de aprendizagem por vontade própria, mesmo fora da instituição, o que é muito comum quando um aluno adulto não enxerga significado naquilo que está sendo transmitido pelo educador. A ausência da prontidão.
Os métodos de ensino utilizados na Pedagogia são muito mais sobre a transferência de conhecimento fundamental, e não o discurso sobre a prática, a aplicabilidade do saber. Na educação de adultos, talvez o conteúdo que o professor pretenda transmitir (com base em um currículo pré-definido) já seja de conhecimento do aluno e a necessidade seja de entender em como aplicar isso na prática, em uma realidade profissional.
Implicação no cenário educacional
Infelizmente, no Brasil, não temos uma formação para professores com foco na Andragogia, para podermos comparar qual formação é mais ou menos eficiente. Tanto é que não se encontra um curso superior, ou até mesmo técnico, para “Andragogos “.
Quem decide se especializar na educação de adultos, o faz por conta própria, em livros (na grande maioria em outro idioma), em pesquisas e nas práticas diárias em sala de aula. Talvez isso reflita um pouco na evasão nas universidades brasileiras, que segundo estudos de 2010/2011, ultrapassavam 20% (o número aumentou consideravelmente).
Concordo que a carga horária é pesada, principalmente para quem trabalha, o custo as vezes é altíssimo, mas grande parte das desistências se deve ao desinteresse pelos conteúdos ensinados em sala de aula e na didática utilizada. Se mais de 1 em cada 5 estudantes estão desistindo dos cursos acadêmicos, talvez seja a hora de repensarmos quem está ensinando e a forma com que estão fazendo.
A questão, portanto, não é contrapor estas Ciências Agógicas, mas entender qual delas, em quais momentos e para quais aprendizes é preciso utilizar? Será que meu aluno criança e/ou adolescente, irá entender e se interessar por uma aula onde os pressupostos são andragógicos? A recíproca também é verdadeira. Já imaginou um aluno adulto, ‘aprendendo’ com a mesma metodologia direcionada à Educação Infantil, por exemplo? Vale a pena refletir!
Para referenciar o artigo, utilizar:
– Beck, C. (2014). Pedagogia e Andragogia são iguais? Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/pedagogia-e-andragogia-sao-iguais/