Estudos na área da neurociência mostram que ninguém pode aprender qualquer coisa se não estiver motivado a tal, sendo assim, motive para ensinar melhor. É necessário despertar a curiosidade, que é o mecanismo cerebral capaz de detectar a diferença na monotonia, e aí então, envolver o aprendiz naquilo que se deseja ensinar.
O aprendiz costuma prestar atenção àquilo que se destaca, que é prazeroso, que o faz se sentir desafiado. Tanto é que Sócrates, o pai da filosofia e sábio dos sábios, como é considerado, utilizava a indagação, a ironia, buscando a autorreflexão por parte de seus ouvintes. Quando alguém se sentia certo sobre algo, o cidadão grego que viveu em Atenas há mais ou menos 2.500 anos, sentia a necessidade de multiplicar as interrogações e formular diversas perguntas para esclarecer e exemplificar o conceito que se procurava.
Sócrates era um mestre em provocar incertezas em seus seguidores e ao indagá-los, conseguia despertar também a motivação em chegar a uma solução, lógica ou verdade. Percebo que falta um pouco da prática socrática em nossos educadores atuais, uma vez que suas ações são voltadas a trazer uma resposta aos aprendizes, antes mesmo de ter recebido uma pergunta.
Conforme diz o neurocientista espanhol Francisco Mora:
“É preciso acender uma emoção no aluno, que é a base mais importante sobre a qual se apoiam os processos de aprendizagem e memória. As emoções servem para armazenar e recordar de uma forma mais eficaz.”
Gosto muito de provocar meus alunos, de utilizar frases e imagens que os faça pensar, refletir. Costumo não trazer respostas ou verdades absolutas para sala de aula, afinal, sei que o aluno adulto gosta muito de ser desafiado, de resolver um problema, de receber um estudo de caso e sentir a emoção de chegar em uma solução que ninguém havia pensado antes. Isso os mantém motivados e abertos à novos aprendizados.
O aluno aprendiz se sente mais motivado quando percebe que o professor não é a única fonte de informação e conhecimento em sala de aula (como dizia Vygotsky), e que qualquer um pode compartilhar suas experiências e pré-conceitos sobre o assunto abordado. É um dos principais pressupostos andragógicos, faz todo o sentido e é motivador, uma vez que o educador convida o aluno a fazer parte do processo de ensino-aprendizagem.
A grande questão aqui é: Somos todos motivados da mesma forma? Eis então, o maior desafio para qualquer educador, identificar o que motiva seus alunos a estarem em sala de aula. Seja uma motivação extrínseca ou intrínseca, tenha a certeza de que algo os motiva. Se nesse momento você lembrou de algum aluno seu que fica no celular o tempo todo, só dorme e não presta atenção na sua aula, ótimo, lá vai um aprendizado: algo o desmotiva… e é bem provável que seja você!
Provavelmente você terá alunos com perfis diferentes, em situações profissionais distintas e cada qual com um interesse específico pelo aprendizado proposto. Existem alunos que preferem a teoria, outros que pedem pela prática, mas independente das preferências, o conteúdo precisa fazer sentido para cada um deles. Se o educador não os envolve ou se determinada informação não é relevante naquele momento, dificilmente o aluno absorverá o aprendizado. É por mal? Não! Apenas não se sentiu motivado para tal.
Saiba que para um aluno prestar atenção na aula não basta exigir que ele o faça. A atenção deve ser evocada com métodos, ferramentas e técnicas educacionais. Sim, elas existem! Aprender sobre elas e identificar o melhor momento de utilizá-las é algo que todo educador deveria dominar.
A maioria dessas práticas educacionais trabalha a reflexão do aprendiz, o envolvimento dele com o aprendizado e sempre que aplicadas, são voltadas às necessidades ou interesses individuais daqueles que estão ali para serem ensinados. Assim, o aluno que busca o conhecimento para enriquecimento pessoal se motivará, também o colega que quer aplicar o saber em seu negócio, e até mesmo o aprendiz que está em sala de aula por ‘obrigação’ dos pais ou empresa, se motivará a aprender o que você quer ensinar.
Leve uma proposta diferente de ensino para a sala de aula. Encontre formas de motivar seus alunos, seja através de perguntas ou não, mas o faça. O neurocientista espanhol, que citei há pouco, também diz que desde que somos mamíferos, há mais de 200 milhões de anos, a emoção é o que nos move. Os elementos desconhecidos, que nos surpreendem, são aqueles que abrem a janela da atenção, imprescindível para a aprendizagem.
Motive para ensinar melhor. Envolva. Gere a reflexão. Oriente.
Beck, C. (2016). Motive para ensinar melhor. Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/motive-para-ensinar-melhor/