top of page

Ensino Mútuo (Método Lancaster)

Uma Provocação Inicial


Antes de introduzir o conceito do método de Ensino Mútuo e tecer explanações a respeito do mesmo, gostaria que você, ao pensar sobre ele e, consequentemente, tirar as suas conclusões ao fim da leitura deste texto, considerasse as seguintes situações:


(1) Quando aluno(a), ainda que criança, provavelmente já lhe surgiu um desejo de auxiliar o seu professor ou professora, a por exemplo: distribuir as atividades, recolher os cadernos, apagar o quadro (de giz ou branco) e até mesmo realizar uma leitura ou responder aos questionamentos dele como forma de agradar-lhe até conquistar a sua confiança e poder ser visto como ‘autoridade’ em sala de aula.

OU…


(2) Enquanto educador(a), você reparou ou apresentou-se, em determinado momento, a você, um (ou mais) aluno(a) possuindo e demonstrando facilidade em aprender e principalmente em reproduzir determinado conteúdo. Ao se deparar com a situação, provavelmente você ‘utilizou’ deste aprendiz, para incitá-lo a ajudar os seus colegas na resolução de exercícios e/ou na explicação de determinada tarefa, assim, fazendo-o se sentir responsável frente à turma.


Se você conseguiu visualizar-se em pelo menos uma das situações descritas acima ou, ainda que não estando no lugar do protagonista, quem sabe, as tenha presenciado, saiba que, existe nome, endereço, características e ‘falhas’ nesta forma de disseminar o conhecimento. Inclusive, recebeu o nome de: Ensino Mútuo.


A História do Método


Pioneiro na Inglaterra, espalhando-se pelo mundo e, possuindo caráter de Lei (1827) no Brasil, o Ensino Mútuo, também conhecido como ‘Ensino Monitorial‘ ou com ainda mais fama: Método Lancaster, surgiu a partir da ideia de um método que pudesse ser eficaz, de baixo custo e se estendesse à ‘todas’ as classes sociais. Seus idealizadores, Andrew Bell e Joseph Lancaster (que o nomeou), buscavam um modelo que pudesse servir (positivamente) a educadores, aprendizes e principalmente: aos bolsos do governo.


“O método pelo qual uma escola inteira pode (mutualmente) se educar, sob a supervisão de um mestre”.

Segundo Andrew Bell, em An Experiment In Education (1796).

“O ensino mútuo consiste na reciprocidade do ensino entre os alunos, o mais capaz servindo de mestre ao menos capaz”.

Segundo Joseph Hamel Lancaster, em Mutual Education (1818).


Andrew Bell idealizador do Método Lancaster
Andrew Bell (1753-1822) Ensino Mútuo
Joseph Lancaster idealizador do Método Lancaster
Joseph Lancaster (1778-1838) Ensino Mútuo

Ambientação e Características


As aulas aplicadas a partir do conceito de Ensino Mútuo, ocorriam em espaços que necessitavam de amplitude, visando a instalação do maior números de alunos possível. Além disso, não deveriam contar com recursos materiais que significassem despesas de custeio ao governo da época (livros, cadernos, apostilas e lápis eram itens considerados ‘de luxo’ para quem quisesse aprender através da mentoria). O ambiente deveria possuir relógios, para indicar que haveria tempo determinado para a realização de cada uma das atividades propostas e, caso ocorressem fora do horário previsto, punições poderiam ser aplicadas.


Disposição dos ambientes no Ensino Mútuo (Método Lancaster)
Disposição dos ambientes no Ensino Mútuo

As lousas eram disponibilizas nas mesas (compartilhadas), e a escrita ficava a cargo de materiais baratos como cal e/ou carvão. As paredes também eram de serventia à exibição das tarefas propostas pelo monitor e deveriam ser utilizadas ao máximo, desde que outros recursos não fossem gastos.


Carteiras com lousas para a aplicação do Ensino Mútuo (Método Lancaster)
Carteiras com lousas no Ensino Mútuo

Aplicação do Método


Para ‘conduzir’ as aulas aplicadas através do Método Lancasteriano, o mestre, como deveria ser chamado o professor da época, escolhia aqueles alunos que considerasse capazes de reproduzir suas atitudes e chegar próximo daquilo que visualizavam como maneira correta de ensinar aos colegas, inspirados por seus superiores.


Aplicação do Ensino Mútuo (Método Lancaster)
Aplicação do Ensino Mútuo

Os ‘monitores‘, como eram denominados, chegavam ao espaço onde ocorreriam as aulas logo cedo, juntos aos mestres e recebiam uma vara, que seria utilizada, mais tarde, para indicar ordem e regência sobre os demais alunos presentes no ambiente. O mestre, lhe explicava a maneira adequada de instrui-los, enfatizando a importância de manter a disciplina e prezar pela memorização e repetição daquilo que, é claro, estivesse sempre de acordo com o que o mestre desejara, que, por sua vez, levava todo o tempo da aula, sentado, observando a condução da aula pelos monitores escolhidos, que eram avaliados no ato.


Consequências e Desvalorização


Apesar de sua idealização ‘convincente’ e de ter sido difundido por todo o mundo, desde a proposta por seus precursores, o método de Ensino Mútuo, ainda que reunisse inúmeros alunos e gerasse o sentimento de sucesso através da sugestão de ‘iguais’ no tocante aos colegas e o sentimento de pertencimento de todas as classes sociais àquela realidade, estava longe de ter intenções verdadeiras aos alunos e seus anseios para com o aprendizado das ‘primeiras letras‘ (conteúdo aplicado nas Escolas Elementares da época).


Suas características que remetiam ao trabalho desenvolvido por operários nas fábricas onde, inclusive, Lancaster detinha experiência, geraram insatisfação popular, que além da falta de contentamento, discordavam que os alunos ‘mais capazes’ poderiam de alguma forma, ocuparem o papel de mestres, o que para a sociedade da época, desafiava a autoridade e ordem exercidas pelo professor, que jamais deveria ser ‘substituído’, ainda que presente no espaço.


Outro aspectos que desvalorizaram o método do Ensino Mútuo foram a falta de preparo dos mestres para orientar os monitores escolhidos e, assim, fazê-los reproduzir suas próprias práticas de maneira fiel ao que era esperado: a mistura de ideias e propostas que não configuravam um único modelo, a escassez de lugares que atendessem à expectativa do governo, assim como a falta dos recursos mínimos que queriam oferecer como ‘materiais didáticos’.


Para concluir a apresentação e descrição do conceito deste modelo de ensino que falhou em suas tentativas de maximizar o número de alunos presentes em determinado ambiente e secundarizar a aprendizagem, de qualquer que fosse o conteúdo, gostaria de retornar às situações inicialmente propostas por mim e fazê-lo(a), portanto, refletir: Onde está o erro? Seria possível repensar o ensino mútuo e dar-lhe outra ‘cara’? Esta prática já existe, agora, seguindo outras premissas? Não deixe de expor seu pensamento. Será um prazer obter contato com ele, qualquer que seja.

 

Para referenciar o artigo, utilizar:

Cosme, E. (2022). Ensino Mútuo. Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/ensino-mutuo


bottom of page