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Ciclo Gnosiológico (Paulo Freire)

Etimologia


A Gnosiologia é definida como a parte da Filosofia que estuda o conhecimento humano. Formada a partir do termo grego “gnosis” que significa “conhecimento” e “logos” que significa “doutrina, teoria”.


Portanto, pode ser entendida como a teoria geral do conhecimento, na qual se reflete sobre a concordância do pensamento entre sujeito e objeto. O objeto, neste contexto, é qualquer coisa exterior ao espírito, uma ideia, um fenômeno, um conceito… mas visto de forma consciente pelo sujeito. Com base nisso, podemos falar sobre o Ciclo Gnosiológico.


De acordo com Paulo Freire, o Ciclo Gnosiológico é o movimento que se dá entre o educador e o aprendiz, ou como o patrono da educação brasileira gostava de chamar: a dô-discência (conceito que expressa a mutualidade inseparável entre o educador e o aprendiz no processo de ensinar-aprender).


Há um trecho de sua obra Pedagogia da Autonomia (que reúne 20 saberes à prática educativa) que fala sobre isso:


“Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.”

Pedagogia da Autonomia - Paulo Freire
Pedagogia da Autonomia - Paulo Freire

Definição do Ciclo Gnosiológico


Podemos resumir o Ciclo Gnosiológico como o momento de ensino e aprendizagem do conhecimento já existente e o momento de trabalhar a produção do conhecimento ainda não existente. As práticas da do-discência e da pesquisa são fundamentais nestes dois momentos do ciclo, tanto de forma individual (autorreflexão) ou compartilhada (aprendizagem coletiva).


Muito relacionado com as práticas andragógicas, tal pensamento freiriano é voltado ao ensino ‘não-tradicional’, longe daquele que temos hoje onde um professor, de maneira ‘top-down’, chega em sala de aula com o conteúdo pronto e ali não se constrói conhecimento coletivo. Essa ‘lógica docente’, onde o professor assume que sabe tudo e está em uma posição onde apenas ele ensina, não gera ‘gnosis’, muito menos envolvimento por parte dos aprendizes.


Como dizia Freire, ‘preciso ter a certeza de que posso saber melhor o que já sei, e conhecer o que ainda não sei’. Quando dialogamos com nossos aprendizes, assumimos um papel de desvelador e desafiador, buscando construir novos conhecimentos em coletividade e aprender com aqueles que não ocupam, oficialmente, um papel de professor.


Se você é um educador, te pergunto: Você já aprendeu, em algum momento, com as respostas que lhe deram? Aprendeu com os diálogos que os alunos propõe? Se a resposta for negativa, faça uma reflexão. Se não há aprendizado nas respostas que lhe são dadas, suas perguntas não fazem sentido. Ali não se gerou conhecimento dialógico, entende? Cito uma outra frase de Freire, desta vez encontrada em Pedagogia do Oprimido:


“O pensar do educador somente ganha autenticidade na autenticidade do pensar dos educandos, mediatizados pela realidade na intercomunicação.”

Implicação do Ciclo Gnosiológico


Uma reflexão interessante é que, assim como nossos aprendizes, nós educadores, devemos nos considerar como seres inacabados (que são imperfeitos), incompletos (precisamos dos outros) e inconclusos (em processo de transformação), que também buscam respostas e aprendizados. Quando passamos a nos enxergar de tal forma, passamos a dar valor ao Ciclo Gnosiológico e assumimos a dô-discência e não mais, a docência.


Aprendi muito com as teorias de Freire, apesar de suas obras serem voltadas apenas para a Pedagogia. As mensagens que ele transmite em suas teorias, assim como o fez com o Ciclo Gnosiológico, nos mostram que precisamos muito gerar a crítica em sala de aula, despertar a curiosidade, gerar inquietação e incerteza para que seja possível ver além daquilo que nos colocam como ‘suficiente’.


Com isso, é possível aproximar as duas partes (educador e educando), entender as motivações de ambos e fomentar a curiosidade epistemológica (assunto para um próximo artigo).


É importante ressaltar que o Ciclo Gnosiológico só termina quando um novo conhecimento é construído (o que raramente se faz em sala de aula), não permanecendo apenas no debate sobre o conhecimento já existente (o que é mais comum de acontecer).


Dessa mesma forma também pensava e agia Sócrates, provavelmente um dos influenciadores de Freire, quando utilizava a Maiêutica para construir/despertar em seus aprendizes novos conhecimentos. Para o que seria a primeira fase, o filósofo grego utilizava a ironia para confrontar o saber que o aprendiz julgava dominar e depois, buscava ‘parir o conhecimento’ através de reflexões.


Se você gostou desse artigo sobre o Ciclo Gnosiológico e quer ler outros como esse, compartilhe em suas redes sociais e com os colegas educadores (se for este o caso). Seja você um divulgador do pensamento crítico e da possibilidade de trocar saberes. Isso nos incentiva não apenas a continuar o trabalho, como auxiliá-lo a produzir conhecimento. Obrigado!

 

Para referenciar o artigo, utilizar:

– Beck, C. (2017). Ciclo Gnosiológico: um conceito de Paulo Freire. Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/ciclo-gnosiologico/

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