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Sala de Aula Invertida (Flipped Classroom)

Hoje escrevo sobre o “Flipped Classroom“, que no Brasil é conhecido como Sala de Aula Invertida. Sempre que encontro um modelo de ensino que foge daquele ‘tradicional’ aplicado em sala de aula, busco colocar aqui no Portal Andragogia Brasil para que você (educador, instrutor, consultor, estudante) tenha a possibilidade de aplicar em suas atividades.


O conceito de Sala de Aula Invertida


Os conceitos foram desenvolvidos na década de 90 e contou com a participação de vários autores, sendo um deles Eric Mazur, professor de Harvard, que escreveu sobre a aprendizagem fora e dentro da sala de aula. Segundo o professor holandês, os alunos deveriam estudar o conteúdo antes da aula, através de apresentações, aulas online, vídeos, áudios, leitura de livros, jogos, entre outros.


Em sala, o educador aprofundaria o aprendizado com exercícios, estudos de caso e conteúdos complementares. O tempo em sala seria para esclarecer dúvidas e estimular o compartilhamento de conhecimento e experiência entre a turma, com base nas informações e conhecimentos adquiridos previamente.


Por mais que o conceito de sala de aula invertida seja recente, muitos autores já destacavam pontos que podem ter incentivado o modelo de Sala de Aula Invertida – Flipped Classroom:


Vygotsky (1896-1934) destacava a importância do processo de interação social para o desenvolvimento da mente.


Seymour Papert defendia na década de 60 uma didática em que o aluno usasse a tecnologia para construir o conhecimento.


Paulo Freire era adepto de que o professor transformasse a classe num ambiente interativo, usando recursos como vídeos e televisão. “Não temos que acabar com a escola”, disse num diálogo com Papert em 1996, mas sim “mudá-la completamente até que nasça dela um novo ser tão atual quanto a tecnologia”.


Alison King escreveu um artigo (From Sage on the Stage to Guide on the Side) onde diz que o educador deveria aproveitar o tempo em sala de aula para se construir conceitos, e não, ‘perder tempo’ com a transmissão de informação. Sempre defendo isso, inclusive comentei esses tempos que um professor não precisa ser um “Google” em sala de aula! Estamos em 2016 e a informação/conhecimento está muito acessível para os alunos. Lembro as palavras de Jean Piaget que dizem que “O professor não é aquele que ensina, mas o que desperta no aluno a vontade de aprender”.


Outro artigo muito interessante é o “Inverting the Classroom: A Gateway to Creating an Inclusive Learning Environment“, que fala claramente sobre as vantagens de inverter o modelo de aprendizagem na sala de aula e fazer com que apresentação das informações seja feita com antecedência (fora da sala de aula) e se deixe tempo livre para atender as necessidades dos alunos com uma grande variedade de estilos de aprendizagem.


Além das informações adquiridas antes da sala de aula, se cogita também o aprendizado ‘pós-aula’, ou seja, o estudante pode fixar o que aprendeu e integrá-lo com conhecimentos prévios, por meio de atividades como, por exemplo, trabalhos em grupo, resumos, intercâmbios no ambiente virtual de aprendizagem.


Isso tudo está muito relacionado com os conceitos andragógicos, pois se preocupa com o aluno, que chega em sala de aula com embasamento e tem liberdade para expor seu ponto de vista, compartilhar informações e experiências com o restante da turma. O papel do educador nesse caso, é de orientador dos percursos de pesquisa e mediador entre estudantes e conhecimentos. Isso lhe dá tempo e oportunidade de desenvolver a responsabilidade da turma, autonomia, trabalho em equipe, entre outras competências.


Quem já aplica a Sala de Aula Invertida?


Em Harvard, nas turmas de cálculo e álgebra, os alunos inscritos em aulas invertidas obtiveram ganhos de até 79% a mais na aprendizagem do que os que cursaram o ensino tradicional. Na Universidade de Michigan, um estudo mostrou que os alunos aprenderam em menos tempo. O MIT (Massachusetts Institute of Technology) considera a Sala de Aula Invertida fundamental no seu modelo de aprendizagem. O método é adotado em escolas da Finlândia e vem sendo testado em países de alto desempenho em educação, como Singapura, Holanda e Canadá.


Professores da Woodland Park High School aplicaram o conceito em suas turmas de ensino médio. Gravaram suas aulas online, para que os alunos que não compareceram na aula pudessem assistir. Perceberam que o aproveitamento foi bem melhor do que das pessoas que estavam presentes. Algo semelhante a isso aconteceu com Salman Khan, fundador da Khan Academy (plataforma online de educação livre e organização sem fins lucrativos), onde em 2004 gravou vários vídeos a pedido de um primo mais novo para auxiliá-lo com o aprendizado de um assunto específico.


A Michigan’s Clintondale High School criou em 2011 uma turma com o conceito de sala de aula invertida, utilizando vídeos de 3 a 6 minutos para instruir alunos antes das aulas. Os resultados positivos foram em diversas disciplinas (matemática, ciência, estudos sociais, inglês), onde os alunos melhoraram seus desempenhos e a taxa de insucesso (reprovação) foi de 30% para apenas 10%. A escola aplica até hoje o conceito de Sala de Aula Invertida, utilizando arquivos de áudio, leituras e vídeos da Khan Academy , TED e outras fontes, antes e depois das aulas.

 

Para referenciar o artigo, utilizar:

Beck, C. (2016). Sala de Aula Invertida (Flipped Classroom). Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/sala-de-aula-invertida/

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