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Aprendizagem por Observação


Hoje escrevo sobre a Aprendizagem por observação e como sempre, em vez de me prender a conceitos, dados e informações que vocês encontram facilmente em qualquer mecanismo de busca, vou compartilhar um estudo feito em 1990, onde se obteve ótimos resultados com essa técnica de ensino.


O estudo foi feito no norte da Inglaterra e envolveu equipes cirúrgicas de cinco centros médicos. Participaram 23 cirurgiões, que tinham como objetivo acompanhar e aprender entre eles, através da observação do trabalho mútuo. O objetivo final era avaliar o processo de compartilhamento do conhecimento e buscar mensurar quanto poderia melhorar o índice de sucesso de cirurgias de bypass coronariano (especialidade dos participantes).


Gosto de salientar uma etapa do projeto, onde os cirurgiões fizeram visitas de campo, para observar seus colegas em ação. Essa etapa fazia parte do que eles chamavam de técnica de aperfeiçoamento contínuo, onde a intenção era que os profissionais entendessem a importância de aprender com os demais colegas de equipe, de forma horizontal, aberta e colaborativa. Se os participantes entendesse como é fácil e útil aprender entre eles, os idealizadores do projeto acreditavam que o compartilhamento de conhecimento seria contínuo.


Por alguns dias, os profissionais observavam uns aos outros, acompanhando cirurgias, as rotinas nos consultórios e como os pacientes eram atendidos. Eles iam revezando e todos os 23 participantes puderam observar, aprender e também ensinar por igual. Eles se mostravam interessados em saber como um colega de trabalho realizava tal atividade, quanto encontravam pontos comuns, faziam anotações, e sempre que identificavam oportunidades de melhorias, gerava uma autorreflexão e maior envolvimento.


De fato, o projeto foi um sucesso e os benefícios dessa aprendizagem por observação foram vários, que incluíam desde a melhora na organização de pessoal, novas técnicas cirúrgicas e até mesmo novas formas de avaliações aos pacientes. Mas o que chama a atenção mesmo é que, após esse projeto, os hospitais demonstraram coletivamente uma redução de 24% na taxa de mortalidade naquela cirurgia.


Um dos pontos que colaboraram bastante para que esse projeto fosse bem sucedido, é que os participantes tinham uma linguagem comum, compartilhavam formações e experiências bem semelhantes e o conhecimento não estava vindo de um mestre, doutor ou especialista em uma sala de aula. O ensino não foi ‘top-down’, e sim na horizontal, entre pessoas do mesmo nível, com interesses parecidos e com uma confiança mútua.


Tem uma frase muito interessante de Davenport que diz:


“Pessoas não podem compartilhar o conhecimento se não falam a mesma língua.”

Para que a Aprendizagem por observação tenha resultados positivos, precisamos reunir pessoas com os mesmos interesses, que usam a mesma linguagem e com experiências semelhantes. Se você, educador, conseguir identificar experiências em sala de aula, poderá formar grupos e incentivar que os alunos aprendam também entre eles, através da observação enquanto acontecem exposições sobre temas e conteúdos.


Para se aplicar a técnica, existem 4 etapas fundamentais:


Aquisição: O observador reconhece, ao observar o modelo, as características distintivas de sua conduta;


Retenção: O que foi observado é armazenado na memória;


Desempenho: Se o observador aprova o comportamento do modelo e aceita as consequências, ele o reproduz.


Consequências: Ao realizar a ação imitada, o observador recebe as consequências de tal ação, podendo ser reforçador ou enfraquecedor, ou seja, através das consequências pode-se analisar se a ação é viável.


Mesmo sem pensar na técnica de ensino, já aprendemos há anos com pessoas de nosso convívio (pais, irmãos, amigos, colegas de trabalho, etc). Inclusive, é observando e imitando que as crianças aprendem a falar e a brincar. Também aprendem os adolescentes (ex.: a gostar da roupa que quer comprar, novos hábitos, seriados que irão assistir) e os adultos (ex.: preferência por determinadas marcas de automóvel, no tipo de férias que escolhem e na forma como educam os filhos).


“Ao observarmos e imitarmos outros seres é Aprendizagem por observação, como exemplo, uma criança imita um cachorro ao vê-lo latir. A criança aprende que o ‘’latir’’ é o som que o cachorro faz.”

Para quem tem interesse em saber mais sobre o processo de aprendizagem através da observação e da imitação, existem várias teorias e estudos, que aprofundam bastante no tema. Só a título de curiosidade, você sabia que as células de nosso corpo denominadas neurônios espelho ou células espelho são as responsáveis por nos permitir imitar e reproduzir comportamentos de outras pessoas?!


Sugerimos que leia o artigo sobre a Teoria da Aprendizagem Social, de Albert Bandura (psicólogo cognitivo), idealizador da Teoria Social Cognitiva. Foi dessa teoria que surgiu a Aprendizagem por Observação que muitos outros autores vieram a escrever: Miller, Dollard, Whitehurst, Baldwin, Gewirtz, etc.

 

Para referenciar o artigo, utilizar:

– Beck, C. (2017). Aprendizagem por Observação. Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/aprendizagem-por-observacao/

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