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Aprendi quando ensinei

Um dos conceitos desenvolvidos em sala de aula é de que só se tem a certeza da aprendizagem, ao conseguir compartilhar ou ensinar alguém. Aprendi quando ensinei, essa é uma reflexão que tenho feito em cada sala de aula e utilizo esse princípio para benefício da didática e para demonstrar ao aluno a sua evolução sobre o conteúdo.


Uma vez fui questionado sobre como saber se um aluno realmente aprendeu sobre determinado tema.


A avaliação aplicada ao término de um semestre ou ao final de um treinamento é suficiente para medir se o aluno absorveu o conteúdo aplicado?

Se você é educador já deve ter se perguntado sobre isso e mesmo tendo boa participação dos alunos, a pergunta sempre fica:


“Será que eles realmente aprenderam?“.

Essa dúvida não é somente do professor e sim, do próprio aluno também! Em muitos treinamentos e palestras que ministrei, percebi que os participantes faziam uma autoavaliação dos conhecimentos, para saber se haviam entendido o conteúdo e se lhes restavam dúvidas.


A questão é que dificilmente o aluno/aprendiz irá perceber o aprendizado, se não houver a necessidade ou oportunidade de aplicá-lo. É por isso que muitos educadores utilizam atividades práticas, buscando unir a teoria com a aplicabilidade real na vida dos aprendizes. Quando iniciei minha atividade como instrutor de treinamentos em 2009, me defrontei com uma primeira turma enorme e composta por vários níveis de participantes. Haviam engenheiros, técnicos e auxiliares de produção de uma empresa em Minas Gerais e ali começaria um desafio: Usar uma linguagem que todos os alunos pudessem compreender.



Um dos conteúdos abordados no treinamento era a utilização de conceitos matemáticos (Teorema de Pitágoras e Trigonometria). Não haviam dúvidas de que os engenheiros compreenderiam os conteúdos e teriam êxito na absorção do conhecimento, mas a minha preocupação era com técnicos e com os auxiliares que estavam muito tempo longe da escola.


De início, tentei utilizar uma linguagem mais básica, detalhando todos os conceitos básicos da matemática, mas percebi que os engenheiros (com níveis de aprendizado mais elevado) estavam desinteressados pelo conteúdo, pois a didática não lhes chamava a atenção e consideravam que aquele conteúdo já fazia parte dos seus conhecimentos.


A questão é que os cálculos aplicados eram para solucionar uma atividade prática, cuja qual, os que tinham mais facilidade para compreender eram os auxiliares e técnicos. Sendo assim, percebi que cada um dos níveis tinha experiências específicas e poderiam ser utilizadas, os engenheiros com suas facilidades para cálculos e os auxiliares/técnicos com a vivência em campo.


Logo após um dos capítulos, partimos para o caderno de exercícios e fiz com que a sala se dividisse em duplas (1 engenheiro e 1 técnico/ou auxiliar). Pedi para que eles desenvolvessem os exercícios e fui acompanhando o desenvolvimento de cada um dos pares. Foi perceptível a evolução das duplas, quando se aplicava a teoria dos engenheiros e a práticas dos técnicos e auxiliares.


Os alunos passaram a compartilhar experiências. Aqueles que tinham mais vivência com cálculos, ensinavam o parceiro da dupla algumas dicas, métodos e formas de se calcular; e os que tinham mais prática na atividade, ensinavam aos engenheiros como eles poderiam usar isso em campo, apresentando exemplos reais.


Antes de concluir o treinamento, pedi para que os alunos comentassem sobre os aprendizados obtidos em sala de aula e os comentários pela equipe operacional foram:


“Nossa, fazia tempo que eu não estudava, mas foi bem mais fácil entender do que na escola”, “Achei que eu não sabia fazer isso”, “Vou poder usar isso no meu dia-a-dia”, entre outros comentários relacionados.

Já os engenheiros participantes, com nível acadêmico mais elevado, confessaram que grande parte da dificuldade está em entender como e onde aplicar os conceitos ensinados em sala de aula. “Meu professor me ensinou Trigonometria e Pitágoras no ensino médio. Eu vi isso novamente na faculdade, mas nunca nem consegui relacionar com a prática.”, comentou um dos alunos.


Onde pretendo chegar? Dificilmente você terá uma turma nivelada, com o mesmo raciocínio e facilidade de absorção de novos conhecimentos. É preciso nivelar a sua didática e a forma de ensino, com base no perfil de cada um dos alunos adultos em sala de aula. É importante entender que a troca de experiência em sala de aula é muito mais válida do que discursos unilaterais feitos pelos professores.


Para o aluno ter a certeza de que aprendeu, ele precisa transmitir o conhecimento. Não sou apenas eu quem defende essa prática, mas é algo comentado por muitos educadores e também por pensadores antigos como Marco Túlio Cícero (um dos maiores oradores e escritores da Roma Antiga) que diz


Se quiser aprender, ensine.”.

Portanto, assim que ensinar um conteúdo, incentive os seus alunos a repassarem essas informações adiante, auxiliarem os colegas com mais dificuldades e após isso, você não necessariamente precisará de uma avaliação final para descobrir que a sua turma realmente absorveu o conteúdo.


Se aprendi quando ensinei, é porque ao ensinar coloco em prova os novos saberes. Caso você seja um educador, permita que seus alunos compartilharem conhecimentos e experiências, que ensinem uns aos outros. O seu papel será apenas conduzi-los!

 

Para referenciar o artigo, utilizar:

Beck, C. (2015). Aprendi quando ensinei. Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/aprendi-quando-ensinei/

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